sábado, 24 de setembro de 2011

Presidente do Centro Acadêmico de História ministra palestra no Campus VIII da UEPB em Araruna

O presidente do Centro Acadêmico de História do Campus III da UEPB em Guarabira, Júnior Miranda, ministrou na terça-feira (20) uma palestra para os estudantes do Campus VIII da UEPB em Araruna.

Com o tema ‘Movimento Estudantil e as Redes Sociais’, a palestra foi promovida pelo DCE/UEPB “Gestão Unidade e Luta” em comemoração ao primeiro aniversário de instalação do campus de Araruna.

Na palestra foram abordadas algumas das principais mobilizações do movimento estudantil no Brasil, como por exemplos, a campanha “O Petróleo é Nosso”, em 1957, os protestos contra a ditadura militar de 1964 a 1985, e o movimento das Diretas Já.

Os recentes protestos estudantis no Chile também foram destacados, além da luta dos povos árabes e palestino por liberdade, e a importância das redes sociais como mais uma ferramenta de mobilização - e não apenas a única - dos jovens.

Estudantes acompanham a palestra no Campus VIII da UEPB em Araruna sobre Movimento Estudantil e Redes Sociais.

 Da esquerda para a direita: Júnior Miranda, Ivan, Kaíse, Thiago e Viviane

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A primavera dos direitos humanos

Com a apresentação do projeto da Comissão da Verdade no próximo dia 21 começa a primavera dos direitos humanos no Brasil.

O golpe de 1964 interrompeu brutalmente o desenvolvimento democrático do país e a ditadura militar que foi instaurada se apropriou violentamente do Estado brasileiro e impôs à sociedade um regime de terror durante mais de duas décadas. Foi o momento mais terrível da história do Brasil desde o término da escravidão.

Foram perpetrados os crimes mais brutais, valendo-se do aparato de Estado contra a democracia, contra o povo, contra sua cultura, contra toda forma de liberdade conquistada ao longo do tempo. A ditadura militar foi um regime que modificou profundamente a história do Brasil, destruindo tudo o que havia de democrático no país, realizando uma política econômica de concentração de renda, de exclusão social e de desnacionalização da economia. Foi o pior regime que o Brasil já conheceu, o que mais violou os direitos humanos no país.

Na sua fase final, a ditadura decretou uma anistia que a favorecia, amalgamando vencidos e vencedores, verdugos e vítimas, apagando da história do país todas as violações que a ditadura havia cometido. Com isso, além da impunidade dos agentes do terror da ditadura, impediu que se apurasse tudo o que foi feito, buscando apagar aquele período da memória dos brasileiros.

A ditadura militar se esgotou, mas conseguiu controlar a transição, com a eleição do primeiro presidente civil pelo Colégio Eleitoral e com a manutenção da anistia imposta pelo velho regime e não decidida democraticamente pela cidadania.

Nesta semana, a secretária dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, entregará ao presidente da Câmara dos Deputados o projeto da Comissão da Verdade. O Congresso vota no dia 21, dia do começo da primavera, o projeto que permitirá à sociedade brasileira apurar a verdade, sobretudo o que aconteceu naquele momento de domínio da ditadura sobre a democracia, do terror sobre a liberdade, da força sobre a razão.

Esse é o espaço que a sociedade brasileira consegue para passar a limpo e, só depois de ter satisfeito seu justo direito ao conhecimento de tudo o que ocorreu, virar essa triste página da nossa história. Todos os que estão comprometidos com essa busca, - goste-se ou nao da forma particular que é possível hoje a busca da verdade -, tem que mobilizar toda sua energia, para que triunfe, finalmente, a verdade e vivamos, finalmente, a primavera dos direitos humanos no Brasil. 
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Postado no blog do Emir Sader

Ditadura Militar: Prisão de estudantes no congresso secreto da UNE em Ibiúna


O CONGRESSO DA UNE EM IBIÚNA
 por Nelson Piletti

Meados de outubro de 1968. Apesar de proibida de funcionar pela ditadura militar, que mandara incendiar sua sede no Rio de Janeiro, logo após o golpe de 1º. de abril de 1964, a União Nacional dos Estudantes(UNE) realiza o XXX Congresso num sítio do Bairro dos Alves, a uns vinte quilômetros do centro de Ibiúna pela estrada de São Sebastião.

O local é de difícil acesso. Juntamente com dois colegas, representando os universitários de Caxias do Sul, cheguei em São Paulo na manhã de terça-feira, viajei para o encontro marcado numa praça de Sorocaba, voltei para São Paulo, instalando-me num alojamento da USP, onde fiquei até a noite de quarta-feira, participando de reuniões e manifestações contra a ditadura, sob a constante ameaça da polícia e do exército, que depois acaba acontecendo.

Na noite de quarta-feira, assim como nas noites anteriores, carros particulares conduziam estudantes até uma certa altura da Rodovia Raposo Tavares.

De lá, na carroceria de caminhões, fomos até o Bairro dos Alves, percorrendo a pé os últimos quilômetros até o sítio do Congresso, onde chegamos na quinta pela manhã.

As instalações eram extremamente precárias: um acampamento de lona para as assembléias, um galpão onde uns poucos podiam dormir em sistema de revezamento – a maioria dormia no local das assembléias onde não se podia entrar sem tirar os calçados, já que chovia muito, o barro era abundante e o chão também havia sido revestido com lona – um chiqueirão desativado que servia de cozinha.

E lá estávamos cerca de mil estudantes de todo o Brasil – algumas delegações, duas ou três, nem conseguiram chegar – sem a mínima infra-estrutura de alimentação, alojamento, higiene.

No sábado, finalmente, após um difícil e prolongado processo de credenciamento, o Congresso teria início. Mas, quando acordamos, por volta das sete horas, vimo-nos cercados por mais de 250 policiais fortemente armados, dando tiros para o alto.


Todos presos, cada um procurando seus calçados num enorme monte – a maioria vestindo o que dava certo nos pés – colocados em fila indiana, marchamos até os ônibus e caminhões da polícia na estrada de São Sebastião, formando um comboio que nos levaria até o presídio Tiradentes no centro de São Paulo, que posteriormente foi demolido.

Em cada centro populacional – Ibiúna, Vargem Grande, Cotia – os veículos circulavam pelo centro para que a população visse os “facínoras” subversivos aprisionados no que foi considerada uma grande vitória do governo militar.

No presídio Tiradentes, onde chegamos por volta das sete da tarde, fiquei instalado numa cela de aproximadamente 3×6 metros com mais de 66 colegas. Num canto, uma torneira e um buraco no chão para as necessidades.

Para comer a gororoba servida num grande panelão, muitos usavam a carteirinha de estudante, outros o cabo da escova de dentes, previamente aquecido e amassado, outros, ainda, simplesmente as mãos.

Após uma semana de interrogatórios, a maioria dos estudantes foram levados presos para seus Estados, algumas delegações foram liberadas em São Paulo mesmo e cerca de 70, considerados os líderes, permaneceram presos.


Entre esses estava José Dirceu, então presidente da União Estadual dos Estudantes(UEE) de São Paulo e organizador do Congresso que, posteriormente seria banido do Brasil em troca da libertação do embaixador dos EUA, seqüestrado com o objetivo de obter a soltura de presos políticos. Hoje, muitos participantes do Congresso de Ibiúna ocupam posições de destaque na política, na economia, na cultura do país. Vinte anos depois, em 1988, eu próprio fui candidato a prefeito de Ibiúna.

O que significa, entre outras coisas, que o mundo gira, a história é dinâmica. Com o tempo as posições podem se inverter. Nas palavras de Harold Pinter, Nobel de Literatura de 2005, “nada é absolutamente falso nem absolutamente verdadeiro”.

Só para citar um de nossos maiores escritores, Guimarães Rosa, “natureza da gente não cabe em nenhuma certeza. (…) Esta vida está cheia de ocultos caminhos”.
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Originalmente publicado no jornal A VOZ DE IBIÚNA
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Vi no Na Trincheira