A seguir, nota da Federação do Movimento Estudantil de História (FEMEH) sobre o cancelamento do 31º Encontro Nacional dos Estudantes de História (ENEH), o qual seria realizado no mês de julho em Florianópolis:
NOTA DE CANCELAMENTO DO ENCONTRO NACIONAL DOS ESTUDANTES DE HISTÓRIA DE 2011 EM FLORIANÓPOLIS
Viemos através desta nota justificar a não realização do Encontro Nacional dos Estudantes de História (ENEH) no ano de 2011 em Florianópolis, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É com muito pesar que a Comissão Organizadora do ENEH (COENEH), juntamente, com o Conselho Nacional de Entidades de História (CONEHI), realizado em Aracajú na Universidade Federal de Sergipe (UFS), nos dias 03 a 05 de Junho de 2011 faz esse anúncio.
Esperamos contar com a compreensão de todos/todas os/as estudantes e a manutenção do comprometimento na construção do Movimento Estudantil de História na difícil conjuntura que enfrentamos, intensificada pelo cancelamento do Encontro, ou seja, se faz nesse momento, mas do que nunca, necessária a colaboração na construção da Federação do Movimento Estudantil de História (FEMEH). Abaixo pontuaremos os principais motivos que levaram o Conselho e a COENEH a tomarem essa difícil decisão.
- Histórico da COENEH:
Foi deliberado na plenária final do XXX ENEH realizado em Fortaleza na Universidade Estadual do Ceará (UECE), que o XXXI ENEH seria realizado em Florianópolis. Desde então a COENEH vem trabalhando na construção do encontro. No segundo semestre de 2010, foram pensadas grande parte das questões estruturais do encontro, tais como alojamento, alimentação, segurança, limpeza, banheiros, etc. Foi a partir do CONEHI realizado em Curitiba na Universidade Federal do Paraná (UFPR) nos dias 20 e 21 de dezembro de 2010 que a cara do encontro foi melhor delineada. Isso faz parte de um acúmulo da federação, onde o encontro não é fruto somente da construção da COENEH, mas de um esforço coletivo de formulação e prática de toda a federação. Lá foi definido por centros acadêmicos de todo o Brasil a programação a ser levada a cabo no encontro, abrindo-se espaço para avanços maiores na sua organização. A partir de então foram trabalhados contatos com os palestrantes, garantia de espaços para a realização das palestras e grupos de discussão, bem como o contato com as escolas do país para a articulação de cadernos de textos para os pré-ENEHs, construção do curso de coordenadores e o acompanhamento do andamento do encontro como um todo.
Durante o primeiro semestre desde ano várias dificuldades foram surgindo em pontos que já estavam garantidos o que fez com que houvesse uma alteração significativa no calendário de planejamento da COENEH, se voltando a coisas que já estavam certas para o encontro e atrasando outras, como, por exemplo, o site do evento e a abertura das inscrições. Passaremos agora a descrição desses contratempos citados.
- Corte de verbas do Governo Federal na Educação
Em março de 2011, ou seja, no início do semestre letivo na UFSC recebemos a notícia, assim como todo o Brasil, de um corte de 50 bilhões para gastos sociais. Destes 1,3 bilhões se referiam somente a Educação Superior. Esse corte tem afetado o cotidiano das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) em todo o país. Escolas estavam com dificuldades de articular ônibus para o Encontro e ao mesmo tempo a COENEH recebeu uma diminuição, quase que total em várias das garantias de custeios dadas pela Reitoria da universidade. Essa redução de apoio financeiro se fundamentava neste corte. Perdemos todas as diárias e passagens dos palestrantes que viriam para o encontro, bem como, chuveiros e banheiros químicos, kits para os encontristas, camisetas, segurança e limpeza, dentre outros.
Dadas as condições materiais que nos foram postas, totalmente diferentes das até então conquistadas para o encontro a COENEH se debruçou em um constante trabalho de buscar alternativas para o financiamento deste.
- Gastos
Mesmo com essas condições adversas a COENEH, nessa constante busca por financiamentos alternativos continuava fortemente centrada na construção para a realização do encontro. A menos de um mês da presente data nos foi informado pela Administração do Restaurante Universitário que o mesmo fecharia para manutenção entre os dias 23 de julho a 7 de agosto, coisa que não acontecia antes, o R.U. permanecia funcionando normalmente no recesso de inverno. Dado este novo fator atuamos em duas frentes, uma em fazer orçamentos e buscar formas de alimentação sem o R.U, outra, em negociar com a Reitoria para que o restaurante permanecesse aberto na data do evento, já que o mesmo havia sido comunicado desde de setembro de 2010 a universidade. Essas negociações foram exaustivas, inclusive membros da Coordenação Nacional da FEMEH estiveram envolvidos presencialmente em algumas dessas reuniões. Esgotando totalmente a possibilidade do R.U. ficar aberto, mesmo que só em uma parte do evento, analisamos os orçamentos das empresas, sendo que antes entramos em contato com movimentos sociais e iniciativas como a Economia Solidária para articular a alimentação onde não obtivemos sucesso, já que Florianópolis não conta com esse tipo de organização.
A questão da alimentação somada às conseqüências do Corte da Educação trouxeram uma difícil realidade a ser enfrentada pela COENEH e pela FEMEH, o valor do encontro tornar-se-ia muito alto. A inscrição com alimentação pensada em um número de 2000 pessoas ficaria em torno de R$ 215,00 sendo que caso esse número de inscrições não fossem feitas o encontro teria um enorme prejuízo. A inscrição sem alimentação ficaria em torno de R$ 100,00, pois teríamos que arcar com praticamente todos os gastos do encontro, inclusive o espaço físico das plenárias que é cobrado para as atividades da comunidade universitária, na verdade, uma enorme caixa preta dentro do campus (Centro de Cultura e Eventos).
Vimos que seria inviável realizar o encontro sem o R.U. ou sem alimentação dado que os restaurantes do entorno não comportariam o número de pessoas do encontro, tendo em vista ainda que o custo de vida de Florianópolis é muito alto, uma das capitais brasileiras mais caras de se viver. Nesse sentido pensamos na mudança de data, em antecipar o evento em uma semana, tendo assim o restaurante aberto. Alguns problemas impossibilitaram que isso fosse feito, dentre eles: se antecipássemos o encontro, não teríamos alojamentos, pois eles seriam feitos em salas de aulas que não estariam liberados nessa data, os palestrantes que viriam para o encontro estarão, assim como vários estudantes no Simpósio Nacional de História da Associação Nacional de História (ANPUH), este ponto ainda impossibilitaria várias delegações que conseguiram ônibus em suas universidades, mesmo com dificuldades, que não poderiam coincidir com o Seminário Nacional de História, já que, com o Corte a prioridade de ônibus são os eventos acadêmicos.
Outro ponto que dificultou a articulação estrutural do evento foi a proibição de festas no campus universitário. Isso intensificou os gastos, já que teríamos que alugar lugares para realizar parte das culturais, pois mesmo com a proibição conseguimos negociar e conquistar metade das culturais no campus. Esse ponto afeta o bom andamento dos espaços de integração e socialização dos encontristas.
- Concepção de Encontro
Dentro da construção da federação, lembrando que o ENEH é parte fundamental de sua organização, sendo seu espaço máximo de deliberação, criamos uma concepção de Encontros. Fazer um encontro com altos custos tendo que passar isso para o valor das inscrições elitizaria demais o público do evento, sem contar com a redução de participantes que ocasionaria uma imensa dívida para a FEMEH.
Elitizar o encontro dessa forma, tendo em mente a realidade dos estudantes de história em nosso país seria no mínimo contra toda a concepção que temos de encontro, sendo ele um espaço que articula o viés acadêmico, político e cultural possibilitando uma ampla participação de todos e todas que queiram estar nesse espaço.
- Universidades e Encontros
É importante lembrar que as universidades brasileiras não possuem políticas e estrutura para realização de encontros de estudantes. As universidades não dão estrutura e nem incentivo para que esse tipo de atividade aconteça, sendo que para ela não é conveniente que o movimento estudantil tenha amplos espaços de discussão, acumulo e integração, já que geralmente são nesses espaços onde o movimento formula suas bandeiras de luta e sua organização em si que nem sempre está de acordo com os interesses das Reitorias e governos. Nos últimos dois anos vemos que essa falta de política vem se intensificando, na verdade ela não é uma falta inocente e sem motivos, faz parte de uma concepção de universidade que não passa pela inclusão desse tipo de espaço, ou seja, essa dificuldade de construção dos encontros não é uma coisa isolada mais sim estrutural. A falta de comprometimento da Administração Central da UFSC com a realização do ENEH é uma prova disso, onde são dadas várias garantias e de última hora elas são cortadas, em parte pelo Corte de verbas, mas também por um não comprometimento com a federação, com o movimento e, sobretudo, com os estudantes de história de todo o Brasil.
- Rumos e Seminário de Formação Política
Em uma realidade onde o XXXI ENEH não é possível de se realizar em julho de 2011 temos a necessidade de pensar como garantir uma organicidade mínima da federação e o Movimento Estudantil de História para este ano e a rearticulação do XXXI ENEH. Nesse sentido a COENEH, juntamente com a FEMEH, vê a necessidade de um espaço de articulação em julho de 2011. É importante ressaltar que o Seminário de Formação Política, proposta que realizaremos, não estará em momento algum substituindo o ENEH, mas estará organizando a próxima escola sede e toda organicidade da federação.
O Seminário de Formação Política (SFP) acontecerá de 18 a 24 de julho de 2011 em Florianópolis tendo um número máximo de 300 pessoas, vagas essas que serão indicadas e articuladas via Centros e Diretórios Acadêmicos. A programação, bem como demais informações sobre o SFP poderá ser encontrado no site da FEMEH em breve, porém desde o presente momento as escolas aqui presentes vão articular as demais para que participem do Seminário. No final do Seminário haverá um CONEHI que deliberará sobre o ENEH e demais demandas.
É importante que até o SFP as escolas estejam vendo a possibilidade de realizar o XXXI ENEH e ao mesmo tempo se articularem para participar do Seminário e CONEHI.
Mais uma vez pedimos a compreensão de todos e colaboração na construção efetiva do Movimento Estudantil de História para garantir sua continuidade organizativa assegurando assim que atividades como o Encontro Nacional continuem acontecendo de forma contínua e qualitativa.
Comissão Organizadora do XXXI Encontro Nacional dos Estudantes de História (COENEH)
Conselho Nacional de Entidades de História (CONEHI)
Centro Acadêmico Livre de História (CALH/UFSC)
Fonte: Blog da FEMEH